quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Por trás das roupas

Voltei a saber de mim
no instante em percebi
que as fêmeas estão
desamparadas no mundo.

O sopro da vida sai por suas entranhas
e o que lhes sobra é a falsa idéia de redenção.

Os homens recebem apenas
a amarga inutilidade
de platéia que assiste a tudo
subvertida à própria inércia.

Por trás das roupas estamos todos
vestidos com a própria catarse.
O ímpeto me sai pela boca
e quando vomito sangue
é você quem sente o gosto.

Tenho um câncer na alma
que se chama luto
e aos poucos toma conta
de meus ossos e tecidos.

O problema é quando só se tem o passado.
Coisas como a morte são soluções irreversíveis.

Conheci alguém que alcançou
a chegada antes da partida
e que me ensinou
que a vida é provisória.

Por trás das roupas estamos todos
vestidos com a própria catálise.
O sangue jorra por minhas veias
e quando a linha atravessa minha pela
é você quem sente a aflição.

Shel Almeida

(Nota: essa poesia foi escrita após eu ler os livro "Crônica de uma Morte Anunciada" de Gabriel Garcia Marquez e "Rútilo Nada", de Hilda Hilst)


Ian Curtis, do Joy Division

2 comentários:

  1. Muito boa,agora entendi q ian curtis esta fazendo na foto.
    parabens belo poema,duro,mais belo.

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