sexta-feira, 15 de junho de 2012

A hora do cansaço

As coisas que amamos
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.

Pensá-las é pensar que não acabam nunca
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade

Começam a esmaecer quando nos cansamos
e todos nos cansamos, por um ou outro itinerário
de aspirar a resina do eterno
Já não pretendemos que sejam imperecíveis
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade

Do sonho de eterno fica esse gosto acre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.


Carlos Drummond de Andrade



Um comentário:

  1. É impressionante a força que as coisas parecem ter quando elas precisam acontecer.O que parecia p/a sempre se esvai num estalar de dedos e a gente que não estava preparada p/a a ausência , fica sem chão , como tenho dito , a luz se apaga . Fica difícil enxergar e entender . o tempo vai fazer c/ que vc consiga sentir na brisa que passa a presença dele , no seu dia a dia , as lembrançãs vem e c/o vc escreveu hj são mto boas . Abr e bjs . Carol

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